Sensação desconfortante essa em que a palma da mão parece ser grande demais para a coragem que se tem, ou tinha.
E o que seria de uma quase irracional escritora se essas sensações não percorressem todo o seu corpo, de todas as células dos dedos do pé até o último e mais arrepiado fio de cabelo quinhentas e trinta e sete vezes ao dia?
Seria nada, mais vasto ainda que o próprio nada, porque para quem ousa sentir, o nada é muito.
E do que adiantaria só pensar e não sentir?
É dessas noites mal dormidas e escandalizadas pelo escuro que surgem os temores de toda vida, surgem os pesadelos, a insônia, o arrependimento, a dor. E junto à dor surgem essas estrias aqui, consegues ver? Essas estrias que crescem dentro da alma da gente... São elas que nos fazem sentir a vida, embora doam e latejem súbita e loucamente nos dias de forte chuva.
Creio que um dia parem de crescer assim, dia após dia, afinal deve ser algum sintoma da adolescência, fase de crescimento, fase dos dezesseis, uma juventude transviada e uma vontade louca de ser livre, mesmo que a liberdade custe caro, e talvez não se saiba que rumo dar a ela quando há se tem por perto, perto demais.
Ah, a liberdade, tão indefesa e tardia como um remédio para quem há procura, e talvez um veneno para quem consegue alcança-la.



Marina Beatriz

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