Átomo sonhador


Só mais um pouquinho, só mais um pouquinho.. – Ah consegui, aqui estou, no topo do Everest!
Está mesmo congelante aqui em cima, nunca pensei que pudesse retirar o meu lema rotineiro de 'congelar meu coração', acho que dessa vez ele vai ser desfeito.
Começo a cair, cair, cair, e a minha tão segura corda de aço se transforma em um chiclete gigante, então fico pendurada por ele até alcançar a superfície de uma cama elástica.
Não, não é o fim.
Ali fiquei pulando, durante minutos, apenas brincando de alcançar as nuvens (sonho insistente), e quando meus pés se cansam de não tocarem o chão por mais de 3 segundos, eu paro de pular.
Desci, mas desci muito, consegui parar em uma caverna de gelo, onde cada túnel que ali existia levava para o mesmo lugar sempre.
Olhei para baixo assustada, como voltaria para minha casa? Para minha cama cujo mamãe havia colocado minha colcha favorita de bolinhas vermelhas em um fundo branco? Então pensei comigo, isso deve ser mais um sonho alucinante, apenas mais um.
Comecei a me beliscar irremediavelmente, para ter a certeza de que não estava sonhando, e a única certeza que tive foi que aquilo era real e que o meu braço havia ganhado novos hematomas.
Caindo, caindo, caindo, comecei a cair de novo, agora por um simples buraco que havia se aberto diante dos meus pés, comecei a gritar insistentemente, cada vez mais alto, ninguém me ouvia e eu não parava de cair, até que.. havia me descoberto dentro de uma lâmpada, é, uma lâmpada, tipo aquelas do Aladim sabe? Basta esperar que alguém a esfregue pra ter a certeza de que funciona mesmo, afinal as duas opções de saída eram pequenas demais para um fada.
Fada? Acabo de saber que me tornei uma fada, idêntica aquela Sininho do Peter Pan. Quanta mistura!
A única frase que perturbava a quantidade maior dos meus neurônios era... ‘Tem mais alguma coisa para acontecer?’
Ou seja, essa é a parte que as Torres gêmeas se reerguem do nada apenas para caírem sobre mim? Tudo bem suposta fada, não seja tão trágica.
Mas algo semelhante a isso aconteceu, em vez de esfregarem a pequena ilustre lâmpada plagiada do meu ilustrado ídolo Aladim, deixaram-na cair em uma esteira elétrica de fábrica, que dava é claro, em um daqueles monstruosos ‘esmagatórios’ de rotina.
Perfeito, havia me tornado um átomo, simplesmente, um minúsculo átomo.
Eu havia aceitado bem essa idéia de átomo, afinal a minha única expectativa era o pior, e ao menos eu estava livre dessa vez.
Fiquei circulando dias e dias por esse mundo sem fim, até que por um momento, avistei uma enorme colcha de bolinhas vermelhas pendurada sobre o varal.
De volta pra casa? Será?
Fui em direção até ela, e logo avistei mamãe, louca como sempre gritando a todos os ventos que pudessem transmitir o pesar de sua voz, tentei gritar mais que ela (tarefa nada fácil) mas nem ela, nem ninguém conseguiu me ouvir, o que já era de se esperar. Minha única saída foi me instalar sobre a colcha e esperar que algo novo acontecesse.
Já era fim de tarde, a colcha já havia secado e mamãe veio recolhe-la para colocar em minha suposta cama, que já não era tão mais minha. Cheguei em meu quarto, tudo havia ficado perfeitamente onde eu deixei, e minha mãe não estava nem se quer preocupada comigo, tudo estava tão... normal.
Aii! Alguma coisa havia tocado minha cabeça em uma expressão nada delicada, tive contato pela primeira vez com o mundo real desde que tudo isso aconteceu, mas aquele gesto espontâneo e grosseiro foi apenas minha professora de gramática que havia puxado meus cabelos para que eu voltasse a realidade. Sim, eu realmente estava sonhando, de novo.
Pela primeira vez em toda minha vida, agradeci a professora pelo seu simplório ato de ter me apresentado o mundo real mais uma vez, afinal, eu não queria ser um átomo pra sempre.
Enquanto aos beliscões e hematomas? Acreditem, eles sobreviveram a tudo isso, e são reais.

1 comentários:

Cássia disse...

Muito legal...
Bjos!

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