Derivados calmantes.


Será preciso apenas um verso por dia, para que te recordes da vida que se foi, da vida que se leva, dessa rotina suja que te acomoda pelos cantos da casa, que deixa poeira nos teus passos, e tu bem sabes assim como eu que não é a rotina que tu queres, nem tão pouco as mágoas que te trouxeram até aqui, ou te deixaram pelo caminho, queres sentir a cara limpa e alcançar aquilo que por todo este tempo estivesse procurando, afinal todos sabemos o que procuramos, embora não exatamente. Porém, é fato que o que procuramos de certa forma sempre está ligado há desejos que ocultem nossa dor, o rotineiro inchaço nos olhos.
Ás vezes te pegarás solitário em um canto, por mais ativo que sejas, ou lento, não importa, serás ainda zombado pela vida toda que passou na tua cara, e zombarás dela também, afinal foi ela que te trouxe todos esses fragmentos nostálgicos que te dão, de leve, um gostinho doce no coração e um alívio intenso na alma.
Foram as pessoas que partiram sem se despedir que fizeram com que tu tenhas chorado desesperadamente, ou talvez aquelas que não foram ainda, que são limitadamente constantes em tua vida, essas, porém, farão com que tu chores na desesperada chegada de cada partida.
Não arremessarás mais pedras porque já és grande e sabes que elas não voltam, não te lamentarás mais por tudo o que está por vir mas sim por tudo o que poderia ter sido. Jamais zombarás novamente do teu destino, já sabes que ele não perdoa e que já é tarde, já está quase na hora.
Não chores, estás frio agora, não podes chorar pela vida que passou e que foi além das tuas amarras afetivas, ela não volta. Nem tu voltarás.

Marina Beatriz.

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