Piano.


A forte neblina me cegava, é óbvio, ela me cegava. Mas mais cega que ela estava eu, que corria por aquela estrada que se transformava em pó a cada passo apressado que eu dava.
Eu só queria achar o fim dela.
Estávamos eu, eu mesma e algum resto de você, correndo cada vez mais rápido a procura de algo que aliviasse toda essa dor, a procura de um pó mágico que nos fizesse sumir para lugares diferentes, opostos.
De surpresa, em um enredo desconhecido, um enorme piano cai na minha frente. Um piano?
Nossa ele era gigante, e minha curiosidade maior ainda. Subi ao alcance das teclas dele, eu já não estava mais preocupada com a nossa corrida contra o tempo, e comecei a tocar, não uma musica, mas uma sintonia, afinal eu nunca tinha tocado um piano antes.
Cada timbre, cada nota me levava para lugares diferentes da minha história, ele me fazia voltar, ao som do meu próprio destino, ao som do meu próprio sentimento.
Comecei a tocar as notas mais agudas, parecendo aqueles filmes de terror na hora em que a mocinha esta prestes a morrer, e o meu pensamento voou diretamente para a cena em que nós dois estávamos correndo em busca do sol, querendo alcança-lo,
naquele mesmo dia em que você disse que o nosso sentimento era igual as nuvens, cada dia um formato, as vezes escuras demais ao ponto de cair o nosso mundo em gotas de chuva, em outro dia, lá estavam elas em formatos engraçados ao qual dávamos risadas.
Atravessei o imenso piano direto a ultima nota, a mais suave, e lembrei-me por segundos de quando eu era criança e ganhei o prêmio de primeiro lugar na natação, naqueles torneios integrados ao colégio.
Passei horas e horas ali tocando cada som, vendo cada pedaço da minha vida, percebendo que cada nota escondia um segredo meu.
Eu havia esquecido da minha corrida contra o tempo, você já deveria estar na minha frente a horas, como eu pude esquecer. Chega de brincar de máquina do tempo, e hora de partir.
Me despedi com todo o meu afeto daquele singelo piano e fui em busca do meu caminho, cansei de me perguntar porque aquele piano havia surgido ali, naquele momento, no meu caminho.
Finalmente, cheguei ao fim da linha, estávamos lá, eu, uma parede vermelha gigantesca, e o piano, novamente. Nada naquele instante me deixava descobrir o que estava por trás daquele parede, eu suspeitava que era você mas, eu já não tinha mais esperanças, elas já se foram a muito tempo.
Eu só precisava tocar uma musica, só uma musica, a musica certa pra nós sairmos dali, escolher as melhores ou as piores lembranças, eu não sei, é arriscado demais, essa parede pode cair sobre mim em qualquer nota errada que eu possa usar.
Mas chega, eu cansei de correr e não achar, afinal este é um ponto sem retorno e eu não vim até aqui pra desistir agora.
Eu resolvi fazer diferente, tocar de tudo um pouco, tristezas e alegrias se misturavam ao som de uma só sintonia, estava dando certo, a parede estava sumindo, e por trás dela havia uma estrada, a sua estrada.
Mas você não estava lá.
Estavamos novamente no inicio de uma nova estrada, eu, e eu mesma, sem você.



1 comentários:

Unknown disse...

muito bom ... gostei do suspense, adorei a paisagem ...
Francis ford coppola precisa te conhecer ... =)